Boom digital: como produtos comuns se tornam fenômenos virais

Produtos têm se tornado fenômenos cada vez mais rápido, através da divulgação de marcas e influencers relevantes na mídia.

Nos últimos tempos, o mundo do consumo vem sendo marcado por uma rapidez fora do comum: custa apenas um rápido clique e upload para que um objeto comum se transforme em um fenômeno global. É o que ocorre com itens como os chamados “Bobbie Goods”, simples livros de colorir, mas que se tornaram febre mundial através das mídias sociais. Esse processo, impulsionado pelas redes sociais, pela divulgação de influencers e de estratégias bem pautadas de marcas, define não só o valor monetário dos produtos, mas como ele é recebido e percebido pelo público consumidor, de forma a se tornar um grande item de desejo com grande relevância mercadológica.   

Mas afinal, de que forma esses produtos são popularizados?

Antes de qualquer coisa, é fundamental entendermos o que é um “Boom digital” e quais seus principais pilares de existência para que possamos tencionar a trajetória de um viral.  

Michele Perrone, especialista em comunicação e em redes sociais formado pela ESPM, e reforça que, o fenômeno do Boom Digital surgiu a partir dos “Mobiles”, ou seja, os dispositivos móveis, e cresceu com a chegada dos Smartphones. Michele também indica que uma grande escala de crescimento desse fenômeno se deu durante a pandemia, e que, apesar da leve queda com o fim do período pandêmico, ainda tende a continuar crescendo cada vez mais, já que nosso cotidiano é cada dia mais digitalizado. 

Heloisa Meneghini Silva, formada em Publicidade e Propaganda pela faculdade Belas Artes, e pós-graduanda em gestão e negócios digitais pela USP, aponta três aspectos chaves que definem um Boom Digital: alcance, engajamento e monetização. Com esses panoramas entendidos, torna-se possível o planejamento do percurso de um produto que poderá se tornar viral.   

Como exemplo, Perrone traz a ex-BBB Juliette, que teve seu engajamento gerado através de sua participação no reality, com alcance proporcionado pela rede Globo, resultando em sua monetização no lançamento de produtos da influenciadora.   

Não existe a “fórmula mágica para o sucesso”, mas sim estratégias.   Perrone aponta: “Poucas coisas são orgânicas. Existe sempre uma estratégia divulgada para influencers.”. Em um mundo hiperconectado, a ideia de forjar algo orgânico vem da tentativa de gerar reações espontâneas, para que assim não sejam vendidos apenas os produtos, mas também o estilo de vida proporcionando por eles.    

Sendo assim, é justamente pela ideia de atrelar outros propósitos a um  produto de consumo, que a viralização pode acontecer. É o que aponta Heloisa: “Para um produto ser bem-sucedido, não basta apenas resolver uma necessidade; ele precisa carregar um significado, expressar uma identidade e conectar com o desejo das pessoas”.  

Uma vez entendidos os pilares fundamentais e os principais mecanismos por trás da lógica da viralização em redes sociais, cabe analisar como, na prática, esses produtos se tornam virais. Assim, destacamos os influenciadores digitais, que tem grande impacto sobre a maneira como consumimos esses produtos, visto que, através dessas personalidades, as marcas podem pôr em prática algo que empresas não conseguem comprar: conexões humanizadas.   

“Muitas vezes o influenciador vai ser o motor do viral, porque eles têm uma coisa que a marca não tem; apesar de a marca poder investir milhões, elas não têm o que os criadores têm. Então, o papel do influenciador é extremamente importante por ter o que a marca não consegue comprar, que é a conexão real com o público, que, geralmente, é o que dita o decorrer do produto”, diz Heloísa. Com isso, fica evidente que, a humanização gerada por pessoas reais, combinada com a escolha dessa personalidade, é um combo que gera atrativos para os produtos.  

Essa análise é confirmada por Perrone: “Você repara que, se você trouxer a parceria correta, e o seu produto pare com o influenciador correto, ele vai ter grande engajamento. O produto com influenciador certo, com a parceria certa, vende muito mais.”  

No entanto, o caminho da viralização é sempre uma faca de dois gumes. Cada vez mais, empresas vêm criando maneiras de monitorar os riscos antes de mergulhar em certas tendências, já que algumas delas podem gerar controvérsias em sua execução,  como problemas envolvendo o influenciador contratado. Outras possuem um tempo de vida tão curto que causará prejuízo ao se investir em viral de pouca duração.  

As marcas têm o poder de criar fenômenos ou apenas reagem quando eles acontecem?  

Para os especialistas, há divergências quanto à capacidade das marcas de criar e potencializar fenômenos culturais. Para Perrone: “Marcas criam, marcas potencializam. As marcas fazem tudo. Uma marca com grande poder econômico, consegue, além de criar uma tendência, se “apropriar” de ondas já existentes para seu próprio uso. A chave é o storytelling.”  

Em contraponto, na visão da publicitária Heloísa, é mais difícil para marcas criarem um fenômeno do zero. Sendo assim, seu principal papel é agir através da potencialização de um viral: “Na prática eu acho muito difícil. O que as marcas conseguem é “preparar o terreno” desenvolvendo produtos com apelos narrativos alinhados ao momento atual”, afirma Meneghini.  

Apesar das discordâncias, quando se trata de uma possível crise e/ou saturação na indústria dos virais, a concordância é mútua. É dubitável uma possível crise no mercado dos virais digitais, e entende-se que é um lugar que ainda há de se expandir para muito além – por mais que trends e produtos tenham uma durabilidade de fama cada vez mais curta.  

O mercado está constantemente transitando entre tendencias, impulsionado pelo consumo do público que torna certos fenômenos virais. Esse comportamento estimula as empresas a se ajustarem ao ritmo acelerado das mudanças culturais.       

Fonte: Cásper Líbero.