Digital muda plim plim e afeta domínio da Globo

Profissionais da comunicação avaliam transformações do digital, rebranding de veículos tradicionais e impacto de influencers na mídia.

Pegue de exemplo o famigerado podcasto formato que surge um novo a cada esquina, está crescendo nos últimos anos. O valor gasto em publicidade totalizou US$ 1,93 bilhão no ano passado. Em 2022, a quantia investida foi de US$ 1,82 bilhão, um aumento de 26% em relação ao ano anterior. O modelo, hoje, atende todos os interesses, com conteúdos jornalísticos, transmissões esportivas e entretenimento. Algo inimaginável nos primórdios de seu surgimento em 1993.

“Globo da internet”

‘Flow Podcast’, por exemplo, conta atualmente com programas noticiosos, cietíficos, esportivos, entre outros. Segundo Luiz Funari, produtor executivo do canal, em entrevista à ESQUINAS, confirmou haver um planejamento de crescimento em novas áreas. “A ideia é falar com todo mundo. O Flow está virando um complexo de televisão. Já falaram que é a ‘Globo da internet’ e o objetivo é mais ou menos esse”, afirma.

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Luiz Funari, produtor executivo dos estúdios Flow.
Foto: Reprodução/LinkedIn

Oportunidades antes exclusivas aos grandes meios de comunicação se tornaram disponíveis a estas “Globos da internet”. Na última eleição presidencial do Brasil, o Flow realizou duas entrevistas com os dois principais candidatos, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), ao todo, os conteúdos geraram 25,7 milhões de visualizações, tendo, a do atual presidente, o recorde de um milhão de espectadores simultâneos.

Para Funari, esse alcance do podcast é atrelado ao ambiente mais à vontade que o formato possibilita. “São dois motivos que atraem os candidatos: o primeiro é ter o público que vota assistindo ou escutando, já o segundo é a liberade durante a entrevista. Aqui [Flow] eles tem muito tempo para exporem as suas ideias, diferentemente da televisão que existe um tempo durante as falas”, analisa.

Em conjunto com a expansão de seu ecossistema comunicacional, o Flow, hoje, se destaca pela dinâmica informal de seus programas, aproximando emissor com receptor. O produtor executivo acrescenta que a essência dos estúdios deve permanecer a mesma com o tal “bate-papo”. Essa liberade cedida aos convidados garante o encontro de opiniões, muitas vezes erradas ou imprecisas, por não passarem pelo crivo jornalístico. Em meio a este cenário de “mesa de bar”, no ano passado, a FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) se posicionou a favor da regulação democrática das plataformas digitais.

O modelo a ser seguido? 

Rafael Lara, repórter da TV Anhanguera, afiliada da TV Globo em Goiás, se questiona se todas as empresas ou complexos televisivos querem ter o “Padrão Globo” e seguir o mesmo caminho. “É muito investimento para chegar a esse nível. São mais de 100 afiliadas com altos níveis de produção. A estrutura de uma televisão como a Globo é inviável para canais digitais menores”, comenta.

Já Thatiana Brasil, jornalista da TV Record, acrescenta a importância da televisão na opinião pública. “Ainda é muito potente, principalmente, quando utilizada como ferramenta de comunicação em massa. Além de que é mais democrática por chegar em locais inimagináveis”, afirma. Ela completa que a televisão aberta integra comunidades sem acesso à internet, destacando a presença de antenas em quase todas as casas.

Virada na comunicação

Dizer que os canais tradicionais ocupam as salas da maioria dos brasileiros nas últimas cinco décadas já é um pleonasmo, mas com o crescimento de mídias digitais alternativas, há, no mínimo, uma sugestiva virada dessa constatação.

“Esse aumento é justamente a possibilidade do relacionamento com diferentes públicos. Ele [o público] quer interagir, se manifestar, até mesmo ser protagonista. Toda essa vontade gera com que organizações foquem em estratégias de aproximação entre o público e os produtores de conteúdo”, analisa Bianca Marder Dreyer, diretora e fundadora da Relatio, empresa especializada em gestão integrada de negócios e relações públicas. 

Para a jornalista Brasil, hoje, os canais oferecem o recurso da multiplataforma com o objetivo de aumentar a audiência. “A Record, por exemplo, coloca toda a progamação no PlayPlus [aplicativo da emissora]. É um meio de atrair o público jovem e fortalecer esse relacionamento”, completa.

Além dessa briga por “quem agrada mais”, o repórter Lara acrescenta que a virada também ocorre no dia a dia da comunicador. “Hoje, faço vídeos [reels e stories] para as redes sociais, já é uma tarefa diária”, diz.

Quem se comunica melhor?

E como em toda disputa há competição, na comunicação não seria diferente ou seria? A jornalista da TV Record acredita que, canais digitais não competem diretamente com veículos tradicionais. “O público é de outro nicho. Essas plataformas chegam para somar e com uma linguagem diferente”, afirma.

Na contramão de Brasil, a diretora da Relatio enxerga uma concorrência forte e direta. “Eles [mídias digitais] influenciam o público, principalmente, pessoas que não buscam ou não consomem a mídia tradicional. Confesso que estou observando com atenção esse crescimento”, destaca.

Autores: Ana Guercio, Francisco Prates Camargo, Lucas Massei e Maria Alice Primo.

Fonte: Cásper Líbero.